Depois de levar Daisy a casa, Jaden ponderou uma vez mais sobre a sua decisão. Parecia quase um passo louco entrar novamente naquela floresta e ir ter com um rapaz que nem sequer conhecia. Mas Anon salvara-lhe a vida, e isso fazia-o ver as coisas de uma outra maneira. Olhou uma vez mais para marca cravejada no seu braço esquerdo antes de avançar para a imensidão da floresta. Esta continuava vermelha e a debater-se sobre si própria.
Perfurou o mato, olhando em redor na esperança de encontrar Anon. Mas não viu mais nada a não ser árvores. Avançou para a clareira, onde se estendia um grande lago ladeado por pequenos arbustos. Aquele sítio visto de dia não parecia tão assombroso como visto de noite. Talvez porque não houvesse lá nenhum animal selvagem para o atacar. Porém, ao virar-se para trás, um leopardo de pelo dourado e olhos azuis-claros parecia olhá-lo incansavelmente.
- Isso é mesmo necessário? – inquiriu Jaden, impaciente. – Não te podes pôr humano outra vez?
Por seu turno, o leopardo colocou-se de pé, tal e qual uma pessoa, e rapidamente um corpo esculpiu-se no seu pelo, como se estivesse a sair do mesmo. De lá, surgiu um rapaz de cabelos prateados, que pareciam incrivelmente louros à luz do sol, mantendo os seus reflexos azuis imensamente brilhantes.
- Já te disse… eu não sou humano… - limitou-se Anon a responder, caminhando para junto de uma árvore. – Fico contente por teres vindo…
- Pois… mas pensei duas vezes antes de vir. Aliás, acho que pensei mais do que duas vezes…
- Vocês humanos não gostam nada de arriscar pois não?
- E tu não sabes fazer mais nada senão criticar-me?
- Eu não te estou a criticar. Bem, mas não foi para isso que aqui vieste. Senta-te…
Jaden sentou-se sobre as folhas secas caídas das árvores, enquanto observava Anon a dirigir-se para trás e para diante, com uma expressão pensativa, como se estivesse a pensar no que dizer a seguir.
- Acho que a melhor maneira de começares a interiorizar esta informação toda é saberes tudo o que tens a saber sobre o meu mundo.
- Parece-me bem… - disse Jaden, enquanto pegava em folhas e as rasgava, causando um barulho irritante.
Mas subitamente, as folhas que detinha nas suas mãos pareceram queimar-se, transformando-se em meras cinzas que não tardaram a escapar por entre os seus dedos.
- És capaz de prestar atenção?
- Mas eu estava a…
- Não interessa… - interrompeu Anon.
Encostou-se a uma árvore, sem deixar de fixar os olhos azuis-cinza de Jaden. Passados poucos segundos, como se tivesse acordado de um transe, recomeçou.
- Eu venho de um mundo muito diferente do teu… uma outra dimensão. As Dunas de Tariqq. Há anos atrás, as Dunas de Tariqq eram governadas pelo Rei Jareth, um governante muito estimado pelo meu povo. Ele era compreensivo, honesto, não ligava a sumptuosidades, e acima de tudo, amava o seu povo, e punha-o acima de qualquer coisa… excepto as suas duas filhas, é claro. Aquah e Radiah.
Jaden lembrou-se quase instantaneamente daqueles dois nomes. Tinham sido pronunciados por Anon e Abraxaz na noite anterior, antes de cair ao lago.
- Radiah é a filha mais velha, e Aquah a mais nova. Amadas incondicionalmente pelo Rei. Porém, ambas criaram um ódio recíproco, gerando uma competição e um confronto de ideias e mentalidades completamente antagónicas. Radiah começou a conquistar seguidores, virando-os contra a sua irmã.
«Porém, Aquah apenas se preocupava com o bem-estar do povo das Dunas de Tariqq, mesmo que este estivesse completamente contra si. Por outras palavras, o Rei Jareth tinha como filhas um Anjo… e um Demónio.
«Até que um dia, houve um golpe de que ninguém estava à espera. Radiah ficou tão obcecada em herdar o trono do seu pai, que organizou um motim que assolou toda a cidade governada pelo Rei Jareth. Criou exércitos muito poderosos que matavam e destruíam tudo o que se lhes atravessava no caminho. Gerou-se uma Batalha sem fim… armas de aço puro contra a inocência de um povo vulnerável. Mas essa invasão servia apenas de distração para o Rei Jareth. O que Radiah realmente queria, era matar o seu próprio pai, para subir ao trono e assim aniquilar Aquah, para ter o caminho completamente livre.
Jaden deteve-se por alguns instantes. Manteve a boca entreaberta, como se quisesse dizer alguma coisa e não conseguisse. Mas Anon parecia nem ter reparado na sua cara de espanto, e continuou o seu monólogo.
- Está claro que ela conseguiu o que queria. Bem, pelo menos… parte. Matou o seu pai, atraindo-o para uma emboscada. Mas, por uma razão que nos é desde então desconhecida, o trono, o palácio, até a própria areia do deserto que circundava o Reino viraram-se contra ela, impedindo-a de assumir o poder. Aí, a sua revolta assumiu um tamanho colossal, tornando-a cada vez mais vingativa, sangrenta e desumana.
- Porquê? – perguntou finalmente Jaden, qual criança a ouvir história da avó. – Porque é que ela ficou assim?
- Já esperava que perguntasses isso… - disse Anon, com um sorriso ligeiro. – Diz-me… se estivesses a planear algo há imenso tempo… dias, semanas, meses, talvez anos; e no fim não fosses bem sucedido, como é que reagirias?
- Não mataria os meus pais, de certeza…
- Concentra-te, Traham Suryah! Não vês? O ódio de Radiah pela sua irmã Aquah, a aparente razão por não conseguir subir ao trono, tornou-se cada vez maior, e nada a deterá enquanto ela não conseguir matá-la! Esta exaltação levou a que as Dunas de Tariqq se dividissem em dois reinos rivais: Melih Kibar, um reino governado pela tirania de Radiah, e Nau-Ashta, governada pela paz e espiritualidade de Aquah.
«Eu não aguentava ver o meu próprio lar dividido daquela forma, e vi-me no dever de fazer algo! Acreditar nas lendas…
- Lendas? – indagou Jaden, franzindo o sobrolho.
- Há muito tempo que se fala na existência de um Oráculo escrito pelo próprio criador das Dunas de Tariqq, Aleron Tariqq. Esse Oráculo contém a resposta para os nossos problemas! Contém algo já há muito profetizado, algo que nem sequer Radiah imagina. A Profecia Wyatt!
- Então porque é que não consultam esse Oráculo, ou lá o que é? – perguntou Jaden, desinteressado.
- O Oráculo tem estado desaparecido… nem se sabe sequer a sua forma, a sua cor... se é realmente um manuscrito ou apenas uma frase… Desapareceu sem deixar rasto.
- Oh… que chatice… - lamentou Jaden, ironicamente.
Mas Anon não pareceu incomodar-se com aquela frase sarcástica, e apenas se limitou a sorrir levemente para Jaden, olhando-o nos olhos.
- E é aqui que tu entras, Jaden…
Por segundos, Jaden permaneceu petrificado, a olhar para o solo coberto por uma manta de folhas secas. Algo dentro de si revolveu-lhe o estômago, dilacerando-o por completo. O que se estaria a passar consigo?
- Eu?
- Sim… tu. Apenas tu podes encontrar o Oráculo, Jaden…
- Porquê eu? Tenho algum mapa, é?
- Não sejas ignorante, rapaz! – Anon parecia um homem de 50 anos a falar, como se Jaden não passasse de uma criança. – Mas isso eu vou explicar-te no nosso próximo encontro, que, para que fiques a saber, trará muito mais informação do que esta. Isto apenas serviu para te localizar no espaço e no tempo.
- Ótimo… posso-me ir embora?
Anon fitou-o, agora sem sinal de paciência no seu olhar enfurecido, assemelhando-se ao de Thomas.
- É bom que mudes de atitude! Amanhã quero-te aqui à mesma hora.
Contudo, Jaden virou-lhe as costas e perfurou o mato com as mãos preguiçosamente metidas nos bolsos do seu casaco. Apesar de não querer demonstrar interesse algum, algo no seu íntimo o fizera não tirar os olhos de Anon, nem dispersar a sua atenção daquela história. Dentro de si debatiam-se ainda mais perguntas do que as que já tinha do dia anterior, e embora se sentisse tentado a perguntar a Anon, achava que apenas uma pessoa conseguia procurar as respostas: ele próprio.
4 comentários:
Ok, adorei o episódio, estava mesmo espectacular! A maneira como o Anon descreveu a história das Dunas de Tariqq estava simplesmente brutal, muito clara e interessante. Mesmo óptimo para manter o leitor agarrado!
Continua assim! :D
Isto tudo fez-me lembrar o Thor hahahah.p. mas agora isso nao interessa.
Adorei bastante. Para elém de teres conseguido explicado de uma forama brilhante ao Jaden também o fizes-te a nós. Parabéns pelo optimo capitulo conseguido...
Está de facto perfeito...
Fico agora basntate curioso com a historia do Oráculo e penso que tudo agora vai rodar a isso xd...
Parabens..., quero mesmo ler mais!
^thor looool enfim
ENTAO! FOI AQUELA CABRA QUE MATOU O PROPRIO PAI! A FAZER-SE DE COITADINHA PFFFFT grrrrrrrr
ANON, podes parar de ser lindo sachavor? *.*
QEÉ MAAAAIS! E Jaden comporta-te, tás-te a comportar como um adolescente mimado pffft
P.S: NATHAN! ONDE TAS AMOR! ;_;
Heee tu sabes mesmo fazer suspense, agora fiquei mesmo ruído para saber o que vai acontecer *.*
Eu acho o jaden tão engraçado quando fala para o Anon x)
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