23º Capítulo - Um Guerreiro Desaparecido



Nau-Ashta era inundada por uma neblina esbranquiçada que fustigava todas ruas e casas com um brilho subtil e apaziguador. O sol pálido que lá se imiscuía causava reflexos por toda a parte, projetando raios de luz para o céu nacarado. Este espreitava timidamente por detrás da vegetação densa e hidratada das colinas que circundavam toda aquela cidade.
Sobranceiro à aldeia, no cimo de uma colina íngreme que se destacava de todas as outras, erguia-se o palácio, remontando a um estilo persa angelical. À sua volta, a neblina parecia desvanecer-se perante os clarões azuis-claros que saíam de cada janela e pelo brilho dourado dos telhados colossais.


Perfurando toda aquela neblina, um homem, com aspeto cansado e ofegante, encaminhava-se apressadamente pelos caminhos sinuosos que desembocavam no topo da colina que escorava aquele palácio tão majestoso. A relva coberta por uma fina camada de gelo rangia sob os seus pés descalços, e a sua face era fustigada por um vento frio que arrastava uma fragrância que combinava flores com maresia.
Mal chegou à entrada, as comportas gigantes abriram-se com um silvo, e as grades moveram-se ligeiramente, desenhando arabescos que constituíam padrões abstratos que faziam lembrar asas de um anjo. Agora, o peito do homem arfava ainda mais, olhando para todos os guardas que, porém, nem se tinham mexido com a sua presença.
O interior do palácio era tão ou ainda mais apaziguador que o resto da cordilheira que o cingia. Incensos eram acesos por dezenas de servos, que denotavam expressões tranquilizadas e, de certo modo, apáticas. O chão era coberto por brilhos azuis-claros que trepavam pelos postes dos arcos persas que o ladeavam. Não havia trono nessa sala, apenas uma fonte de águas cristalinas que caíam de uma jarra segurada por uma estátua esbelta e proeminente. À medida que a água caía, um pequeno arco-íris brotava da espuma que se formava, inundando as paredes com um agrupado de cores.
- Princesa Aquah! – exclamou o homem, curvando-se perante a fonte que agora ondulava calmamente.
As suas palavras pareceram inquietar as águas brilhantes e límpidas, que não demoraram muito a criar uma onda que se erguia divinalmente, adquirindo aquilo que parecia ser um corpo elegante e frágil de uma mulher. Dessa forma humana, saiu, de facto, uma mulher de cabelos loiros esbranquiçados, uma pele clara, uns olhos extremamente azuis que brotavam uma névoa das suas íris e um vestido que se estreitava no seu corpo fino e gracioso.


- Meu caro servo… levantai-vos! – a sua voz era ainda mais divina do que todo aquele palácio, chegando aos ouvidos do homem que se levantava agora, como um rumorejo. – O que vos traz aqui?
- Vossa majestade! A vossa irmã Radiah sequestrou mais dez servos do Nau-Ashta, e continua a dizimá-los por completo! Mas sem nenhum sucesso no que seria o seu principal propósito: nenhum dos sequestrados revelou qualquer informação, fosse ela qual fosse!
- Puseram a lealdade à frente da vida… - comentou Aquah, agora deslocando-se da fonte para o meio do salão, com uma expressão triste, mas com um pequeno sorriso de orgulho a esboçar-se no seu rosto.


- Mas eu suponho… - continuou o servo, agora com uma voz menos ofegante – que a vossa irmã quisesse saber algo relacionado com o Traham Suryah! Ela tem andado obcecada!
Aquah virou-se num ápice, os seus cabelos loiros com reflexos azuis a flutuar e envolvendo-se no seu longo pescoço.
- Porque haveria a minha irmã querer saber algo sobre o Traham Suryah? Todos sabem que atualmente não existe nenhum nas Dunas de Tariqq!
- Pois, vossa majestade! Sobre isso também já não sei. Perdoai-me a observação, mas receio que quando a vossa irmã está interessada em algo, é porque sentiu essa coisa de uma forma ou doutra…


- O que está a tentar dizer? – inquiriu Aquah, aproximando-se do servo com o seu rosto sereno a aflorar-lhe da alma.
- O Traham Suryah pode ser apenas uma lenda, mas se Radiah ficou preocupada em sequestrar servos para lhes extorquir informações sobre ele, é porque sentiu que algo fazia essa lenda tornar-se realidade! Algo que a fez, de súbito, acreditar nos relatos… um evento recentemente acontecido!
- Está a falar do desaparecimento de Anon?
- Sim, vossa majestade! Ele passava todo o tempo a falar sobre essa lenda, e que um dia haveria de encontrar um!


Aquah virou-se de novo para a fonte de onde desabrochara, as águas a tilintar à medida que caíam.
- Não. O Anon foi negociar com outras terras! Ele disse-me… ele disse-me que em tempos como estes, quanto mais pessoas estiverem do nosso lado, melhor.
- Ele pode simplesmente ter destorcido a verdade, vossa Majestade!
- Mas ele sabe que não existe um Traham Suryah aqui nas Dunas de Tariqq! Perdoai-me, caro servo, mas eu confio plenamente no Anon, e consigo ver quando é que ele me mente.


O servo curvou-se de novo, como símbolo de resignação, e, perante um gesto suave da mão de Aquah, retirou-se do salão, olhando inúmeras vezes para trás.
Por seu turno, Aquah voltou a mergulhar na fonte de águas límpidas. O seu corpo desfez-se em pequenas gotas de água, inquietando novamente a fonte que outrora se encontrava tão vagarosa e calma.

4 comentários:

João disse...

LINDO!
OMG! A Aquah é tipo, linda, perfeita, maravilhosa! E aquela cena de ela se transformar em água *-* Super amazing!
Bela imaginação, sim senhor!
Como sempre, o episódio estava perfeito, por isso não há mais a dizer xD
Continua assim, plzz!

grandemike15 disse...

Amei*.*
Quanta criatividade nossa :D
Adorei continua assim que todos estamos a adorar ;)

mmoedinhas disse...

Transforma-se em água? *.* Ela é liiiindaaa *.*
A descrição do palácio, meu deus! Está perfeito!
Ri-me porque o servo parecia o tarzan... xD

Continua, a minha curiosidade mata-me!

Mr.Lis disse...

Adorei!
Adorei o palácio e mesmo bonito x)

Postar um comentário