30º Capítulo - O Tigre e o Leopardo (Parte I)



Passados alguns segundos que para Jaden pareceram horas ou talvez mesmo dias, os seus lábios e os de Daisy descolaram-se, enquanto a música acabava lentamente e os convidados dispersavam pela pista de dança. Sorriram um para o outro, porém com um olhar meio adormecido e apaixonado. Sentiu um calor a subir-lhe pelo peito acima, enquanto se encaminhavam para fora da pista de dança.


- Não posso crer! – exclamou um homem de cabelo no ar e com uns óculos estranhamente postos. – Daisy Hudson! A filha de Brock Hudson, o empresário mais famoso de todos os tempos!
Daisy corou rapidamente, mordendo o lábio com vergonha.
- S-sim, sou eu…
E nesse instante, jornalistas apareceram em massa do nada, disparando flashes para a cara de tom escarlate de Daisy. Jaden afastou-se, espremendo-se por entre a multidão de jornalistas que cercavam a namorada como se esta fosse uma super estrela.
Quando se conseguiu livrar daquele mar de gente, dirigiu-se para o buffet, onde brilhavam taças enormes de ponches de todas as cores e aperitivos com um aspeto delicioso. Olhou em redor na esperança de encontrar Nathan, mas sem sucesso. Este tinha desaparecido subitamente sem deixar rasto.
O ambiente naquele Hall ia-se tornando cada vez mais sufocante, com a entrada progressiva de convidados e professores universitários que, mal entravam, eram logo cercados por jornalistas que os bombardeavam com perguntas. Jaden saiu pela porta da frente, onde pendiam uma espécie de luzes de natal e outros adornos banhados a ouro, e encaminhou-se para o pátio da entrada.
- Olá, Jaden – cumprimentou Thomas, surgindo de repente.


- Olá – retribuiu ele, sentindo-se de repente pouco á vontade.
Todos os convidados que restavam naquele pátio já se tinham dirigido para o interior da Universidade, que era onde supostamente devia estar. Ficou a pensar nas palavras que Nathan lhe diria, se soubesse que estava a falar com o ‘rapaz estranho’. Já este olhava-o com uma estranha expressão de desconfiança, os olhos semicerrados e o queixo ligeiramente levantado.
- Ainda não tivemos oportunidade para falar sem interrupções – murmurou Thomas, apontando indiscretamente o queixo para Nathan, que cheirava um rissol de uma maneira bastante cómica, fazendo Jaden suspirar por finalmente ter encontrado Nathan, pelo que lhe dera a sensação que este se escondera de si no momento em que se encontrava perto das mesas de buffet. – Estás a gostar da cerimónia?


Jaden sorriu sem mostrar os dentes, e tentou impedir que a sua voz soasse antipática e fria, sem, no entanto, grandes resultados:
- Estou… e tu?
- Também. Está a ser muito agradável – afirmou Thomas, de uma forma estranhamente formal. Parecia ter quarenta anos e não vinte.
- Pois… Estás a tirar que curso? – Perguntou Jaden, vagamente.
Fez-se silêncio durante alguns segundos. Thomas quebrou-o, deixando transparecer alguma irritação:
- O mesmo que tu.
Jaden deteve-se abruptamente perante aquela resposta conturbada. Tinha a certeza que nunca falara a Thomas do seu curso. Da única vez que haviam estado juntos, a conversa acabara numa pequena discussão sobre a ‘Sala do Museu’. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. De repente, a temperatura baixara imenso, e Jaden não tardou a perceber porquê.


Para lá dos seus olhos, estendia-se uma imensidão de árvores e arbustos, de todos os feitios. O chão que trilhava era terra, com folhas e galhos à mistura; quando Jaden os pisava, provocavam um som idêntico às batatas fritas a serem esmagadas. Num raio de dez metros, não se via rigorosamente mais nada para além da florestação.
- O que é que nós estamos aqui a fazer?! – exclamou Jaden, sentindo-se bastante intimidado por aquele par de olhos azuis que o observavam fixamente. Estes pareciam emanar uma pequena luz no meio do negrume denso que serpenteava os troncos das árvores.


- A dar um passeio… - respondeu Thomas, calmamente, e com um tom de indiferença na voz.
- Eu vou-me mas é embora… - bradou Jaden, bruscamente, antes de ser impedido por Thomas, que lhe apertou o braço com uma força enorme - LARGA-ME! Freak!
Aquela última palavra inquietou Thomas, fazendo-o largar o braço de Jaden rapidamente. Olhou-o com uma ferocidade ainda mais assustadora que há dias atrás, e os seus olhos outrora azuis denotavam um tom avermelhado e fosco. Soltou uma gargalhada de escárnio.
- Vê lá como me falas, Jaden…
- Eu falo como me apetecer! – respondeu, com um tom destemido na voz mas a recuar ligeiramente o passo. Sentia um misto de irritação e medo a comprimir-lhe o peito, perante aquele olhar de Thomas que mudara subitamente de cor.
- Não me parece, Traham Suryah! É melhor amansares-te senão a tua vida acaba aqui num instante.
Aquelas palavras que Thomas proferira, como forma de o alcunhar, fizeram com que o coração de Jaden disparasse abruptamente. Lembrou-se então no dia em que estivera na ‘sala do Museu’ em que ouvira vozes a falar numa língua estranha. Uma delas proferira exatamente esse nome. Mas os seus pensamentos foram logo quebrados com um grito de Thomas, qual porco em agonia. De repente, o seu corpo elevara-se do chão, e toda a carne existente nele parecia estar a ser sugada, tal eram os ossos que se salientavam. A sua pele ficou num tom alaranjado, e as pupilas dos seus olhos reduziam-se num pequeno risco preto. Foi então que da sua cabeça irromperam uma espécie de orelhas pontiagudas, e dos seus braços uma pelagem da cor de fogo listrada.
Mas Jaden não viu mais nada a não ser árvores à sua frente, pois tinha fugido antes que Thomas lhe pudesse eventualmente agredir.


Perfurou corajosa, porém hesitantemente, o negrume que se estendia por entre a florestação. Atrás de si conseguia ouvir um rugido sonoramente rouco e altivo, assemelhando-se ao de um leão. Este aproximava-se cada vez mais, pois o som dos galhos a serem fendidos pelo que pareciam ser patas enormes, intensificava-se progressivamente. Correu com todas as suas forças, o seu coração parecia que lhe saia pela boca, e o pouco que tinha comido na cerimónia parecia ondular no seu estômago como se estivesse prestes a vomitar. Os passos acelerados do animal que o perseguia aproximavam-se cada vez mais, e Jaden, temendo pela vida, gritou por socorro na esperança que alguém o ouvisse, mas sem sucesso. Estava sozinho na floresta com um monstro que nem sequer tinha coragem de encarar, olhando sempre em frente e correndo o quanto as suas pernas lhe permitiam.

3 comentários:

Anônimo disse...

Heia!!! podias por mais :P achei pequeno :p!
Elá..., namorados? logo! fogo! se fosse sempre assim! hahahaha! adorei :D:D espero pela 2ª parte :D:D..., fiquei foi confuso com a mudança brusca de cenários. mas estás de parabens. o inicio deste capítulo ficou exelente:D:D
Freak?

João disse...

Simplesmente perfeito!
Fogo, esta parte do fim! o.o WOWOWOOW que cena!
*dies*
Estava mesmo amaaaazing! Quero mais u__u

Mr.Lis disse...

OMG OMG OMG O.O
Eu sabia que o Thomas não era flor que se cheirasse .___.

Postar um comentário