16º Capítulo - Uma Tempestade de Culpa


As primeiras chuvas densas começaram a assolar Coast City inteira. As praias paradisíacas tão adoradas pelos inúmeros turistas que passavam na cidade de ano a ano, iam-se esvaziando, vendo-se apenas a areia escurecida pela chuva e o mar rodeado de névoa e fosco pelo reflexo das nuvens cinzentas que iam serpenteando os céus.



Dois rapazes encontravam-se num confronto violento, sobressaltando todas as pessoas presentes num pátio ladeado por muros velhos e de pedra húmida. Uns braços carnudos e vermelhos empurraram o peito de um jovem, impulsionando-o contra uma parede bem longe daquele lugar. O seu corpo jazia, encostado à parede, rodeado por uma poça de sangue. Foi então que Jaden abriu os olhos num sobressalto. Encontrava-se encostado num sofá junto da janela, a ver a chuva embater intensamente no vidro, causando um som um tanto ou quanto tranquilizante. Olhou em redor. A sala de estar encontrava-se vazia e escura, embora fossem 16:00H da tarde. Uma primeira trovoada eclodiu no céu, iluminando os prédios com um flash prateado, como se fosse uma máquina fotográfica enorme. Durante alguns instantes, vislumbrou a espiral esculpida no seu antebraço, rodeada por uma mancha azulada que se assemelhava a uma nódoa negra. A saliência que se avultava na sua pele branca encontrava-se ainda mais avermelhada, como se tivesse sido espezinhada.



- Estavas a dormir, filho? – perguntou uma voz delicada e graciosa, enquanto entrava em casa com sacos imensos de compras do supermercado.
- Não, mãe… estava só a… - Jaden esfregou os olhos enquanto se levantava do sofá – Foste às compras?
- Sim fui! Mas foi muito difícil cá chegar… está a chover tanto. Já não se percebe este tempo… um dia faz sol e um calor insuportável, e noutro faz esta chuva horrorosa. Uma pessoa nem sabe o que há-de vestir…
- Sinceramente, acho que prefiro assim…
A mãe, notando o tom de voz trémulo na voz de Jaden, colocou as mãos na cintura esboçando um sorriso leve.
- Estiveste mesmo a dormir, não estiveste?
- Oh mãe, não me chateies…



- Onde é que tu vais, meu menino? – indagou a mãe, autoritariamente, quando reparou que Jaden já se encontrava no corredor a caminho do seu quarto. – Vem cá ajudar-me…
- Não posso… tenho de estudar! – respondeu Jaden, continuando a andar num passo lento e atribulado.
Mal chegou ao quarto estendeu-se na cama e ficou a olhar para o teto. A chuva lá fora parecia não cessar, sacudindo as janelas com salpicos pesados, seguidos de uma trovoada intensa.
Levou as duas mãos ao rosto, suspirando de desespero. Agora, uma pergunta evidenciava-se na sua mente: Como estaria o rapaz depois daquele impacto? Estaria são? Gravemente ferido? Ou, se calhar, até estaria morto! Nesse momento Jaden teve novamente um vislumbre do seu corpo a jazer encostado a uma parede de pedra espessa, rodeado por pessoas. Foi então que caiu num sono profundo, deixando cair os braços. A marca debatia-se contra a pele de Jaden, e a mancha retorcia-se ligeiramente.



Na manhã seguinte, o céu encontrava-se igualmente escuro, coberto por nuvens cinzento-escuro que ameaçavam mais uma tempestade incessante para aquele dia. Jaden abriu os olhos. Embora fossem 7:00H da manhã, o quarto encontrava-se mergulhado num negrume que o obrigou a acender o candeeiro da mesa-de-cabeceira. Uma vez mais, o seu estômago parecia estar a fazer uma birra para não deixar entrar qualquer tipo de alimento, criando um nó que lhe contraia a barriga, como se estivesse prestes a vomitar.
Arranjou-se o mais depressa possível para não ter de encarar os seus pais a bombardearem-no com perguntas e mais perguntas, ora sobre a marca, ora sobre uma mancha que se salientava no seu antebraço esquerdo, ou ainda sobre uma espécie de cicatriz queloide avermelhada a sobressair-se na pele.
Mal chegou à universidade, tentou procurar Nathan e Daisy. De súbito chegara à conclusão que estar sozinho não era a melhor solução para conseguir esquecer o dia anterior. E para sua sorte, um rapaz de cabelos ruivos descompostos com olhos castanhos-claros e sardas a pigmentarem-lhe o rosto e uma rapariga loira, com um rosto delicado e uns olhos azuis cristalinos encontravam-se a conversar calmamente numa mesa do refeitório.
- Jaden! Olá! – cumprimentou Daisy, sorrindo alegremente.
- Oi… posso sentar-me aqui?
- Claro que….
- Claro que sim, Jaden! – interrompeu Nathan, como se estivesse à espera de arranjar um motivo para interromper Daisy.



- Como te sentes? – perguntou Daisy, seguindo o movimento de Jaden a sentar-se com os seus olhos lacrimejantes.
- Bem…
- Olha eu estava aqui a pensar e…



- OH MEU DEUS! Olhem para as horas! – grasnou Nathan, olhando para o relógio com os olhos arregalados.
Daisy suspirou, e juntamente com os dois rapazes, pegou na sua mala e seguiu-os com uma expressão desiludida. Jaden olhou para trás, reparando que a colega lhe queria dizer alguma coisa, e abrandou o passo para se poder juntar a ela.
- Querias dizer-me alguma coisa?
- Esquece… pode esperar! – disse Daisy, quase num sussurro, apertando os seus livros nos seus braços e dirigindo-se mais rapidamente para a sala onde iam ter a primeira aula do dia.

4 comentários:

Anônimo disse...

Escreves tããão mas tããão bem! O iníco envolveu-me logo e entrei muito bem na hsitória especialmente por pores a chuva e eu ADORO-A! Adorei a maneira como metes o que vai na cabeça deles... nem de uma maneira rápida nem de uma maneira lenta. Mas normal e por sinal muito mas muito boa!
Espero ansisoamente por mais depois de a marca dele se ter começado a mexer e querer saber tambem como está o outro rapaz..., estou mesmo curioso!

E há! Adorei o dialogo dele com a mãe! Parecia mesmo que estava a chover com as palavras deles! ;)

Mr.Lis disse...

Muito fixe, como todos os episódios que já fizeste :D
Agora estou bastante curioso o que será que aconteceu ao rapaz??

João disse...

Desculpa não ter comentado ontem. não vi :C
Mas, como sempre, está mesmo brutal! Simplesmente amazing!
Este final, humm *coça o queixo* ai Daisy Daisy xD
Muito bom! :D

mmoedinhas disse...

OMGOMGOMOGOG CHUUUUVAA!! Eu adoro chuva, sou maluca por chuva, chuvaaaaa!
Epah tu gostas de nos deixar coisos, um precipicio no principio, outro no fim... Nós morremos assim!
Cada vez mais parece que me alimento desta história, completamente viciada...
Daisy, daisy... O que e que vai sair dali...
Uma perguntinha... COmo fizeste aquele efeito cinzento na primeira foto? photoshop certo? E que parece mesmo que a a chover *.*

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