1º Capítulo - O Início da Rivalidade




O céu ficou coberto por uma intensa nuvem vermelha. O som ensurdecedor da trovoada que eclodia bem lá no alto sobressaltou o povo, que num grito unânime de guerra, pegou nas suas armas e enfrentou o exército que se aproximava das muralhas das Dunas de Tariqq. O cenário que se prorrogava pelas ruas serpenteantes e estreias da cidade era aterrorizador… Ouviam-se estalidos atroadores de espadas e colidirem, jatos de luz a iluminarem as ruas. Mães curvadas pelo peso dos seus filhos que se contraíam nos seus seios, a tentar salvar as suas vidas. Cadáveres a levitarem como se fossem penas, ondas massivas de vento a assolarem tendas de sem-abrigo e gritos sofredores e persuasivos de mulheres indefesas…



No palácio, sumptuoso e preclaro, o Rei calcorreava os corredores de ladeados de estátuas para trás e para diante, inquieto por ver o seu povo a morrer nas mãos de um exército rival, que nem ele sabia de onde vinha. A sua cólera era maior do que o deserto que cercava o palácio, e tão difícil de cessar como os adversários que destruíam as muralhas da cidade. Lá fora, a luz prateada da Lua desaparecia no meio de fumo e fogo das explosões que destruíam em massa as casas e abrigos da população.
- Majestade! – Exclamou, nervosamente, um servo que vinha a correr, amedrontado pelo cenário de guerra que se fazia ouvir lá fora. – Não conseguimos encontrar a sua filha! Revirámos o castelo todo, e não encontrámos ninguém!
- Mas isso é impossível! Ela tem de estar aqui! Encontrem a minha filha! Encontrem a Radiah!
Contudo, uma voz doce e delicada irrompeu nos ouvidos do Rei Jareth, uma voz que se assemelhava à da sua amada, que esperara desposar antes da sua morte prematura.
- Pai… tenha calma! A… a Radiah não pode ter desaparecido, ela sabia que não podia sair do castelo!



- Pois, minha filha é isso que me atormenta mais! Sabe-se lá onde estará ela agora… perdida no meio daquela guerra… ou até mesmo vítima.
- Não vamos pensar no pior, Pai! A Radiah está bem… tenho a certeza!
Mas antes de acabar a sua frase consoladora, Aquah reparou que o seu pai já não se encontrava junto de si. Este já se encontrava a percorrer todos os corredores do castelo, a chamar pelo nome da sua filha vezes sem conta, esperando uma resposta. Mas a única coisa que conseguia ouvir era o ecoo da sua voz a entoar pelos corredores que se assemelhavam a pequenos labirintos.



Foi então que um grito perfurou o silêncio que começava a alastrar-se por todo o castelo. Um grito padecente que só podia ser da sua filha.
- Radiah? – Chamou Jareth, caminhando lentamente em direção a uma porta que se encontrava entreaberta.
- PAI! Por favor ajude-me! SOCORRO!
Desesperado, o Rei correu com todas as suas forças até à porta entreaberta, de onde os gritos ofegantes da sua filha se iam intensificando à medida que se aproximava do local. Pela fresta da porta aberta, não se conseguia ver nada a não ser um negrume intenso.
Entrou pelo quarto de rompante, sentindo a escuridão a tapar-lhe a visão, o que tornava difícil encontrar Radiah, pois os seus gritos tinham cessado entretanto. Jareth sentiu um aperto na boca do estômago e o seu coração a chocar fortemente contra o seu peito.
Alteou as suas mãos, e numa fração de segundo, duas chamas que se assemelhavam a cobras, rodearam cada uma, iluminando o quarto com uma ténue luz alaranjada.



O quarto encontrava-se perfeitamente arrumado, como se ninguém tivesse ali estado. E inesperadamente, a porta fechou-se, fazendo um estrondo anormalmente sonoro. O Rei olhou rapidamente para trás, as suas chamas diminuíam agora ligeiramente a sua intensidade.
E nesse momento, uma voz sibilante mas ao mesmo tempo melíflua, aproximou-se dos seus ouvidos. Sentia a sua respiração bem perto de si causando-lhe um arrepio intenso.
- Pensei que fosses mais inteligente Jareth… mas bastou uma pequena armadilha para te aniquilar de uma vez por todas. - A voz não parecia masculina nem feminina, mas sim um roído que ressoava asperamente por todo o quarto.
E logo de seguida, sentiu um punhal, frio e aguçado, a trespassar-lhe o peito. Não demorou muito tempo até aquela dor aguda o fazer contrair-se e decair pesadamente no chão de madeira do quarto. Sentia o sangue, quente e lívido, a escorrer-lhe pelas costas, enquanto tentava respirar a todo o custo. Mas não adiantava de nada… aquele corpo parecia já não lhe pertencer, e a última coisa que ouviu foram passos a afastarem-se do seu corpo que jazia estendido no chão, e um riso cicioso e malévolo a ecoar pelos seus ouvidos.



Mas rapidamente os sons que o rodeavam pareceram desvanecer-se. Fechou os olhos lentamente… as chamas que abraçavam as suas mãos tinham-se apagado, e o quarto tinha mergulhado novamente numa escuridão imensa.




“Durante anos, o Povo das Dunas de Tariqq chorou pela morte do estimado Rei Jareth. Um homem de boa fé, generoso e, acima de tudo, um bom governante. Sem ele, o povo começaria a vaguear numa escuridão sem termo.
Desde a morte do Rei, que o império se dividiu em duas cidades rivais… uma, Nau-Ashta, governada pela Princesa Aquah, a filha mais nova de Jareth. E outra, Melih Kibar, governada pela Princesa Radiah, a filha mais velha.
Aquah e Radiah, para dizer a verdade, nem parecem irmãs. Ambas defendem ideias e crenças diferentes, para não falar das personalidades completamente opostas, daí a origem de uma perpétua rivalidade entre as duas. É triste, pois nestes momentos mais difíceis todo o povo devia unir-se e lutar contra as adversidades, mas não. Acontece exatamente o oposto. Lutam entre si, e foi Radiah que causou isto tudo… ela dividiu as Dunas de Tariqq, separando famílias, amigos de longa data, transformando-os em rivais uns para com os outros. Radiah não respeita a vontade do povo, nem a vontade do seu falecido pai. É apenas controlada pelo ódio que tem à sua irmã, fazendo de tudo para a destruir. Mas de onde vem esse ódio? Como surgiu?”



- É aqui… afinal os mitos eram verdadeiros. – Sussurrou um rapaz, de cabelos prateados e de olhar levantado para um portal que se erguera mesmo ali à sua frente.
- Tens a certeza quanto a isto, Anon? Tu tens mesmo a certeza que existe realmente um mundo além do nosso? E se existir… que tipo de ajuda podemos arranjar lá?
O rapaz, quando finalmente conseguiu deixar de olhar fixamente para o portal, virou-se para trás. Uma rapariga, de cabelos loiros esbranquiçados com madeixas serpenteantes de cor laranja que se assemelhavam a pequenos fiapos de fogo, olhava para ele com uma expressão apreensiva e de olhos lacrimejantes.
- Não há volta a dar, Sylwanin… Eu tenho de fazer isto! Tenho de levar o meu plano avante.
- Mas vão dar por tua falta! – Exclamou a rapariga, com um tom de esperança na sua voz ligeiramente trémula.



- Eu posso muito bem ter ido numa viagem… ou simplesmente ter ido negociar com outros povos! Afinal… é esse o meu trabalho, não é?
Sorriu-lhe levemente e andou em direção ao portal, contendo uma lágrima ao canto do olho.
- Promete-me que vais ter cuidado! – Pediu a rapariga, a sua voz mais trémula do que nunca.
- Prometo! – Respondeu Anon, não saindo do mesmo sítio onde tinha parado para ouvir a rapariga – Deseja-me sorte!



E nesse instante, correu em direção ao portal. Um véu de luz azulada ondulava vagarosamente entre os postes de pedra amarela escura e envelhecida. O jovem de cabelos prateados, outrora com uma expressão determinada e confiante, parecia agora mais inseguro do que alguma vez dera a entender. O receio de atravessar aquele portal gigante crescia-lhe no seu íntimo, e o chão parecia esboroar-se sob os seus pés. Foi então que, rapidamente se sentiu a ser absorvido por um rasgo de luz, que fez desaparecer tudo o que o rodeava. A rapariga de cabelos esbranquiçados e todo o corredor que a cercava tinham-se desfeito em rasgos fragmentados de luz, dando lugar a outro mundo, completamente estranho e desconhecido.

8 comentários:

João disse...

Simplesmente perfeito! AMEI completamente Tudy! Escreveste ainda melhor do que das outras vezes, se é que isso é possível! Adorei o ambiente, toda a atmosfera, tudo o que criaste, do nada!
Muitos parabéns mano, por esta maravilhosa série!
Continua em força! :D

Manuel PS disse...

Concordo plenamente com o Desi PERFEITO!

Mr.Lis disse...

Concordo com o Desi e com o Manuel, está perfeito não tenho palavras :D !
Continua assim :D

¡๓εร disse...

Adorei a estreia!! Está excelente, parabéns!!!
Estou mesmo a ver que esta série vai ser fantástica, das melhores que já fizeste (até agora).
Mal posso esperar pelo próximo capítulo!!

Ah... pois é, esqueci-me de referir: as imagens estão ÓTIMAS!!
:D

mmoedinhas disse...

Tá demais! Assino por baixo de todos os que comentaram! Está perfeito! E a banda sonora!!! *.* lindooooo
Evoluis-te tanto, nota-se! Está tudo tão detalhado, tão descrito! Senti-me lá com eles! E as fotos estão perfeitas tb, nao ficam atras!
Esta serie vai ser demaaaais! *.*
Ansiosissima pro proximoooooo!!!

Anônimo disse...

ADOREI! Foi uma optima maneira de começares até para nos conhecermos melhor as personagens. Dou-te os parabens pelo fantástico mundo que crias-te com umas belas imagens para a nossa cabeça ainda sonhar mais! Espero que continues e já tinha saudades desta tua imaginação que ao mesmo tempo nos é capaz (sempre) de por a sonhar! ;)
Espero mesmo ansiosamente por mais neste(s) mundo(s) que terei todo o gosto em acompnahar! ;)

Di * disse...

OMG, asério a estreia está magnífica, estás de parabéns! Valeu bastante, o tempo que esperei (apesar de nao ter sido muito xD) mas está espectacular, aliás como todas as séries que fazes!

Amei tudo: as imagens, a história, o conteúdo... Está perfeito!!!


Muitos parabéns :)

alexandraa. disse...

adorei, está demais ! espero ansiosa pelo próximo (;

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